A
vida se passa pela janela do carro. A sinaleira está fechada, à minha volta
inúmeras pessoas solitárias dirigindo seus carros. Alguns sofrem com o calor do
dia, outros até conseguem ter um ar-condicionado em sua caixa de fósforo
solitária.
Olhando para um lado vejo um jovem sentado
no ônibus com ar-condicionado lendo seu livro. Ele ainda não chegou lá, na
vida. Ainda não tem sua caixa de fósforos solitária. Ainda pega carona no ônibus,
sentado no ar-condicionado, sem se estressar com o trânsito e ainda vai chegar
ao destino. Enquanto eu estou aqui sem ar-condicionado, tentando sobreviver a
pessoas que às vezes me pergunto como conseguiram ganhar o direito de dirigir.
Será que o dinheiro compra tudo mesmo?
Olho
do outro lado da janela, um casal...
Mas
não dá tempo de pensar sobre, pois, a sinaleira abriu a dez segundos e já ouço
a primeira buzina atrás de mim. Tenho que acelerar.
E
lá vou eu, acelerando. Como tudo no mundo, acelerando cada vez mais.
Tempo
para respirar. Respirar o que? Pedras? Carvão? Dióxido de Carbono?
Outra sinaleira. Dessa vez na minha janela uma revendedora de carros anunciando o carro do ano. Esse é última geração, deve ter mais uns dois ou três botões para justificar o novo endividamento.
Gastem o dinheiro que vocês não têm, para comprar aquilo que vocês não precisam. Para chegar no mesmo lugar do jovem em paz no ônibus.Em
contraste alguns vasos na frente da loja, já que as árvores que outrora estavam
ali já morreram. Provavelmente elas só queriam respirar. Mas o que?
Outra
buzina nas minhas costas. Esse não deve estar com muita pressa. Até esperou
vinte segundos.
E
lá vou eu, digo, lá vamos nós, acelerando novamente...
*Conto de autoria própria
Referência das imagens:
https://outraspalavras.net/cidadesemtranse/automovel-alienacao-edistopia/
https://br.pinterest.com/pin/297589487891811017/
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